Lembro-me nitidamente do impacto
que senti quando ouvi pela primeira vez o “The Final Cut” do Pink Floyd.
Recordo que houve um sentimento
de ligação instantânea com as melodias, letras e vocais lamentosos do Roger
Waters.
Naquele tempo, eu estava me iniciando
nos domínios gélidos do rock progressivo e não conhecia muita coisa da e sobre
a banda. Até porque eu vivia (e ainda vivo ao que parece) em uma época sem muito
senso de memória e gratidão em relação ao rock progressivo. Afinal, em uma
época em que quase toda a música comercial é “fast-food”, quem teria tempo e
paciência para ouvir canções de 23 minutos ou álbuns conceituais que se tornam
interessantes a partir de uma apreciação do todo?
Digressões a parte, o fato
curioso é que, basicamente, eu comecei a conhecer mais profundamente o Pink
Floyd ouvindo o que é considerado o último disco da segunda fase da banda (para
muitos, o último disco da banda). E, mais especificamente, recordo que a canção
que abre o álbum, “The post war dream (o sonho do pós-guerra)”, me causou, de início, um
tipo de sentimento que, naquele tempo, só pôde ser traduzido (e mal traduzido)
por uma palavra: “Caralho!”.
Aquele prelúdio, com sons
sugestivos de um veículo passando em alta velocidade e de um rádio sendo
sintonizado, criava toda uma atmosfera diferenciada para mim que desconhecia
esse tipo recurso sendo utilizado em canções. Depois disso, começavam os
sussurros do Waters com frases aludindo ao fracasso da esperança ocidental num “mundo
melhor” alimentada após o desfecho da 2ª Guerra Mundial.
Progressivamente, a canção ia crescendo, até que a bateria entrava numa batida forte e fazia a canção atingir o
ápice com o Waters gritando “Should we schout, should we scream/ What happened
to the post war dream?” (Deveríamos gritar/ deveríamos fugir/ O que aconteceu
com o sonho do pós-guerra?).
A canção fecha com uma questão
(in)direta a Margaret Thatcher: “Maggie, o que nós fizemos?”. Lembro de terminar de ouvir
a canção, com a sensação indefinida, e logo me veio também a suspeita de que uma questão de uma canção pode durar muito mais tempo
do que o tempo da própria canção...
The Final Cut
01. "The Post War Dream" - 3:02…
Imagem contida na contracapa do álbum "The Final Cut".
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