24/05/2014

Primeiros desacordes de um novo projeto

Instrumental 1 - guitarra - introdução



29/11/2013

Agora eu sei


"Eu tenho como lembrança 
mais absurda a gente cantando
no Show da Xuxa com todas 
aquelas crianças alegres e 
inocentes sacudindo as 
vassourinhas e entoando (...) 
tudo o que isso me traaaaz de dor, 
isso me traaaaaaaz de dor (...)."

(Guilherme Isnard)




Sempre fico meio aturdido ao pensar em algumas canções que tinham tudo para amargar o limbo da impopularidade, mas que, na verdade, atingiram um grau de reconhecimento e aceitação que nem os próprios compositores ou gravadoras imaginavam.

Uma dessas canções pertence a uma banda brasileira muito popular nos anos 80. A canção se chama "Agora eu sei", da banda Zero. Antes de lançar essa música no mercado, a banda tinha lançado um compacto que não tinha lá dado tanto retorno de público e nem em termos de radiodifusão.

Então, em meados dos anos 80, Guilherme Isnard (vocalista e letrista) reestruturou a banda, ao mesmo tempo que recebia o convite da EMI para lançar um mini-lp com o seu grupo. Assim, surgiu o primeiro álbum da banda, "Passos no Escuro".

Gravadora e banda apostaram, como música de trabalho, na canção de abertura do álbum, "Cada fio um sonho". Só que aí aconteceu o inesperado. Os programadores de rádio perceberam uma canção que estava meio que escondida no álbum: "Agora eu sei". A canção possuía um tema pesado, uma atmosfera de desencanto, sem nenhum sex appeal para ser sucesso. Só que a faixa tinha a participação, nos vocais, de nada mais nada menos do que Paulo Ricardo, vocalista do RPM, no auge do sucesso, com todos os holofotes voltados para ele. Não deu outra. Começaram a tocar a canção massivamente no rádio. Consequência: o disco do Zero chegou às duzentas mil cópias vendidas (valor impensável para o rock nacional nos dias de hoje).

Na época, inclusive, o Guilherme Isnard se juntou a Renato Russo para fazer uma versão em inglês da canção. Chegaram a esboçar a letra, mas nunca concluíram... Como será que teria ficado?

Remake da canção feito em 2004, com a participação do PR: 


05/10/2013

Sinais



"Alguns irão vender seus sonhos 
por pequenos desejos
Ou perderão a competição para ratos
Serão pegos em armadilhas
E começarão a sonhar com algum lugar
Para relaxar seu vôo inquieto"

(Neil Peart em "Subdivisions")


Hoje, finalmente, consegui assistir ao "Rush: beyond the lighted stage", um documentário que conta a trajetória de Geddy Lee e companhia. O que tenho a dizer: simplesmente, sensacional.

O interessante, entre outras coisas, foi notar que, apesar de todos os obstáculos e de toda a frieza (por vezes, até hostilidade mesmo) da grande mídia na maior parte do tempo em relação à banda, o Rush conseguiu se manter no cenário musical e não deixar a chama da criatividade apagar.

Ao mesmo tempo, à medida que os relatos aconteciam ao longo do documentário, fiquei bastante assustado ao perceber alguns sinais de identificação minha com  a trajetória pessoal de cada um. Eles sempre foram os caras "estranhos" na adolescência. Os caras estranhos também entre os músicos do rock (há um relato elucidativo do Genne Simmons do Kiss).

"Nunca nos sentimos fazendo parte de turma alguma" (Geddy Lee).

Estranhos sinais esses...

Subdivisions: https://www.youtube.com/watch?v=EYYdQB0mkEU

13/09/2013

Édipo ressuscitado



"Tudo começou com uma simples 
canção de despedida. Provavelmente 
para uma garota, mas percebi que
poderia ser um adeus a uma infância."
        
(Jim Morrison sobre "The End")






Hoje me peguei ouvindo “The End” do The Doors e me vieram à mente algumas histórias controversas e curiosas sobre essa canção.

Ao que tudo indica, essa foi a primeira canção de rock a ousar ultrapassar o limite dos 10 minutos. Isso mesmo antes do Pink Floyd, Yes, Genesis ou do Emerson, Lake and Palmer.

O curioso da composição da canção é que ela foi construída ao longo de inúmeras apresentações da banda durante o ano de 1966 no “Whisky a Go Go” (um clube noturno de Los Angeles), onde os Doors costumavam tocar.

Um evento foi crucial para definir a estrutura da canção. Em uma determinada noite daquele ano de 1966, o clima ficou pesado para banda ao tocar a canção no Whisky. Isso porque o Jim Morrison começou a introduzir na sua performance (no momento que antecedia o clímax sonoro da canção) um tipo de recital audacioso, adaptando episódios do Édipo Rei de Sófocles.

Entoado com toda a energia e ferocidade que o Jim conseguia impor com a sua voz, o trecho “Pai?/ Sim, filho?/ Eu quero matar-te/ Mãe? Eu quero… FODER-TE!" provocou escândalo e desconforto em algumas pessoas que frequentavam o Whisky naquela noite. Uma das pessoas que ficaram estarrecidas com o recital edipiano do Morrison era o dono do clube. Não deu outra: a banda foi expulsa, praticamente enxotada do local.

A banda passou a ser sumariamente banida do circuito de vários bares noturnos (inclusive do Whisky) por causa da performance do Morrison no meio da canção. Uma encenação que na época não era, provavelmente, muito bem entendida pelos donos de bares e frequentadores da noite de Los Angeles.

Mas Jac Hozlman havia visto apresentações da banda e a convidou  para assinar um contrato com então gravadora Elektra Records.

A canção foi gravada no primeiro álbum (embora com o “Foder-te” bastante abafado por gritos) e, inesperadamente, chegou ao primeiro lugar no México.

Daí para frente, a trajetória da banda foi a loucura (elevada à máxima potência) que muita gente já conhece...


P.S. Uma história de bastidor peculiar (nunca confirmada) conta que essa canção foi a última que o Morrison ouviu antes de morrer. Na verdade, o Jim, um dia antes da sua morte, teria iniciado um ritual que consistia em ouvir todos os álbuns do The Doors numa ordem cronológica inversa. Ou seja, ele teria começado no “L.A. Woman” e terminado no “The Doors”, de 1967, cuja última canção é “The End”.

Ouça a canção: https://www.youtube.com/watch?v=aGmAmJFUvzM

06/09/2013

Lembra quando você era jovem?













Pois é, o tempo é avassalador. Não há como escapar disso.

Hoje, um dos caras que mais me inquietaram durante a adolescência completa 70 anos. Roger Waters agora é setentão. 

Talvez graças a ele, hoje eu me interesso por música para além de um mero passatempo. Talvez graças a canções como "Time", "Brain Damage", "Shine on you Crazy Diamond" ou "Another brick in the wall", eu hoje toco (mesmo que toscamente) algum instrumento e tento compor músicas. 

Parabéns, Roger. 
Obrigado pelas canções memoráveis, e continuemos vivendo, embora com menos fôlego do que quando éramos mais jovens.

28/08/2013

Um faroeste sobre o Terceiro Mundo
















Acho o "Psicoacústica" do IRA! um disco fundamental para qualquer apreciador de rock. É daqueles álbuns visionários que abrem fendas e antecipam o que está por vir. Um puta disco de vanguarda. Ele é cheio de experimentalismos, sobreposição de guitarras, efeitos que soam como referências à psicodelia e elementos de "rap-embolada" que remetem à sonoridade do que viria a ser o "manguebeat" na década de 90.

Mas o que me chama a atenção também no "Psicoacústica" é a coragem e a postura do IRA! de ter enfrentado de peito aberto uma indústria fonográfica e um mercado que não estavam habituados a esse tipo de aventura sonora. Basicamente: a indústria dizia que não vendia (a WEA só prensou o disco porque tinha um contrato com a banda) e o mercado nacional era, realmente, imaturo demais para aceitar um rock que não fosse o "feijão com arroz".

Mas o IRA! simplesmente deu de ombros. Lançou um álbum que falava de crime, de morte, de sangue, que questionava o "bom-mocismo" e as mitologias forjadas para criar "heróis" na sociedade; isso com canções um tanto longas, que fugiam dos padrões comerciais da época, sendo que quase todas passavam da marca dos quatro minutos.

Um disco cheio de energia e que exala, poderosamente, a ousadia quase sempre necessária para quem é artista (e não um mero "entretenedor"). Um disco que, acima de tudo, não se preocupava em agradar a todo custo. Se preocupava, sim, em vislumbrar novos horizontes e novas possibilidades para a música ou, em última instância, para o rock'n'roll. 

Rubro Zorro

Trata-se de um faroeste sobre o terceiro mundo...
O caminho do crime o atrai
Como a tentação de um doce
Era tido como um bom rapaz
Foi quem foi
Ao calar da noite
Anda nessas bandas
Do paraíso é o zorro
Rubro zorro
Espertos rondam o homem
Um tipo comum
Tesouro dos jornais
Sem limite algum
Luz Vermelha foi perdido no cais
Do terror
Um inocente na cela de gás
Sem depor
Luz Vermelha foi perdido no cais
Dos sem nome
Era tido como um bom rapaz
Tal qual o "Golem"[*]
Sou o inimigo público número um
Queira isso ou não
Por ser tão personal
Personal, personal...
O caminho do crime o atrai
Como a tentação de um doce
Foi calado na cela de gás
O bom homem mau
No asfalto quente
O crime é o que arde
Bandidos estão vindo
De toda parte
O caminho do crime o atrai...
É na cabeça...
Seu poder racional...
É na cabeça...
Personal, personal...
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[*] Personagem da mitologia judaica, é um boneco de barro em forma de homem que ganha vida por meio de um ritual mágico. Seu criador deve escrever em sua testa a palavra "emet" (verdade), e ao apagar a primeira letra (da direita para a esquerda, direção em que se escreve no idioma hebraico), forma-se a palavra "met" (morto) e assim o "Golem" é desfeito.
Sem alma e, conseqüentemente, sem vontade própria, é criado para servir, realizando trabalhos pesados ou até pequenas tarefas repetitivas do dia-a-dia, além de defender seu criador de qualquer ameaça.

22/08/2013

Quando o dia acaba




"Eu não sinto nenhuma emoção sobre nada.
Eu não quero rir nem chorar.
Estou dormente; morto por dentro."

 (Nick Drake)







Existem alguns artistas que nascem póstumos. 

Apesar de criarem, produzirem, exporem suas próprias sensibilidades com intuito de causar algum tipo de efeito na vida das pessoas, eles vivem suas vidas no mais estranho anonimato, desconhecidos do grande público. Acabam não encontrando o acolhimento, a compreensão e a receptividade que esperavam de grande parte das pessoas. Mas, curiosamente, após a morte deles, as gerações posteriores, gradativamente, vão descobrindo a genialidade desses artistas outrora renegados. 

Nick Drake é um exemplo emblemático desse tipo de artista. Pouco se sabia sobre ele em fins dos anos 60 e início dos anos 70 na Inglaterra. Apesar de gravar três álbuns com canções peculiares, arranjos sofisticados, misturando jazz, blues e folk, e letras extremamente sensíveis, ele não encontrou, em sua época, a empatia do público.

Os produtores insistiam nas gravadoras que o material produzido por ele era genial, tinha algo de novo a ser dito, mas Nick não emplacou na sua época. E, como grande parte dos músicos que possuem  uma certeza intuitiva de que não estão tendo o reconhecimento à altura de sua obra, Nick foi se tornando amargo, retraído, caindo na mais ardilosa depressão.

No auge da sua depressão, quase não falava, e, quando falava, exprimia seu mais desconcertante desalento. Certa vez, disse à sua mãe: "Fracassei em tudo que tentei fazer". A única coisa que ainda o salvava era a música. Algumas de suas mais interessantes canções foram compostas em meio ao estranhamento, à melancolia e à atmosfera soturna que marcaram seus últimos anos de vida.

Morreu após ter tomado antidepressivos numa dosagem elevada. Morreu, talvez, sonhando com a glória artística que se iniciaria após a sua morte...

O dia chega ao fim
(Nick Drake)

Quando o dia chega ao fim
Embaixo da terra o sol se põe
Junto com tudo que foi perdido e ganho
Quando o dia chega ao fim

Quando o dia chega ao fim
E esperas tanto que sua corrida tenha chego ao fim
Então vê que fez algo errado
E tem que voltar onde começou
Quando o dia chega ao fim

Quando a noite é fria
Alguns se vão, outros envelhecem
Só para mostrar que a vida não é feita de ouro
Quando a noite é fria

Quando os pássaros voarem
Não há ninguém a quem chamar
Nenhum lugar para chamar de lar
Quando os pássaros voarem

Quando o jogo estiver terminando
Você lança sua melhor aposta
E perde muito antes do que você teria pensado
Agora o jogo terminou

Quando a festa termina
Parece tão triste para você
Não fez as coisas que você pretendeu
Agora não há tempo para começar uma nova
Agora a festa terminou

Quando o dia chega ao fim
Embaixo da terra o sol se põe
Junto com tudo que foi perdido e ganho
Quando o dia chega ao fim


18/08/2013

O corte final, o ponto de partida...

Lembro-me nitidamente do impacto que senti quando ouvi pela primeira vez o “The Final Cut” do Pink Floyd.

Recordo que houve um sentimento de ligação instantânea com as melodias, letras e vocais lamentosos do Roger Waters.

Naquele tempo, eu estava me iniciando nos domínios gélidos do rock progressivo e não conhecia muita coisa da e sobre a banda. Até porque eu vivia (e ainda vivo ao que parece) em uma época sem muito senso de memória e gratidão em relação ao rock progressivo. Afinal, em uma época em que quase toda a música comercial é “fast-food”, quem teria tempo e paciência para ouvir canções de 23 minutos ou álbuns conceituais que se tornam interessantes a partir de uma apreciação do todo?

Digressões a parte, o fato curioso é que, basicamente, eu comecei a conhecer mais profundamente o Pink Floyd ouvindo o que é considerado o último disco da segunda fase da banda (para muitos, o último disco da banda). E, mais especificamente, recordo que a canção que abre o álbum, “The post war dream (o sonho do pós-guerra)”, me causou, de início, um tipo de sentimento que, naquele tempo, só pôde ser traduzido (e mal traduzido) por uma palavra: “Caralho!”.

Aquele prelúdio, com sons sugestivos de um veículo passando em alta velocidade e de um rádio sendo sintonizado, criava toda uma atmosfera diferenciada para mim que desconhecia esse tipo recurso sendo utilizado em canções. Depois disso, começavam os sussurros do Waters com frases aludindo ao fracasso da esperança ocidental num “mundo melhor” alimentada após o desfecho da 2ª Guerra Mundial.

Progressivamente, a canção ia crescendo, até que a bateria entrava numa batida forte e fazia a canção atingir o ápice com o Waters gritando “Should we schout, should we scream/ What happened to the post war dream?” (Deveríamos gritar/ deveríamos fugir/ O que aconteceu com o sonho do pós-guerra?).

A canção fecha com uma questão (in)direta a Margaret Thatcher: “Maggie, o que nós fizemos?”. Lembro de terminar de ouvir a canção, com a sensação indefinida, e logo me  veio também a suspeita de que uma questão de uma canção pode durar muito mais tempo do que o tempo da própria canção...

The Final Cut
01. "The Post War Dream" - 3:02…





















Imagem contida na contracapa do álbum "The Final Cut".

16/08/2013

Bem-vindo à Máquina

Mais um blog que crio. 

Mas, diferentemente dos outros que já tive, esse não possui nenhum tipo de pretensão literária. A ideia é, simplesmente, escrever de forma despretensiosa, despojada e espontânea sobre música... 

Minha motivação maior para criar o "Elemento Sônico" veio do fato de, no momento, eu estar envolvido em um projeto com um parceiro, arquitetando uma futura banda. Aliás, escreverei, sempre que puder, algo relacionado nos próximos posts.

Então, bem-vindo à Máquina.
Let's rock!